quarta-feira, outubro 27, 2010

A menina com vestido de chita

“Havia a moça das capitais”… havia uma mulher independente, elegante, sexy e segura… pelo menos é o que se via por fora. A conheci… e em meio a uma longa e envolvente conversa olhei no fundo dos seus olhos… e lá, bem no fundo, havia uma menina com vestido de chita, lacinho no cabelo, sentada, chorando.
Me intrigou o que ela fazia lá, tão triste.
Fizemos amizade e era bonito de se ver toda a  imponência daquela mulher, o ar de superioridade às vezes sufocava as almas pequenas ao se redor, despertava inveja, cobiça, desejo, ódio, paixão e medo, mais havia aquele segredo olhar – que eu já soubera. Ela ria, mas não me passava alegria, apenas ria, mais como um charme que como uma expressão de felicidade… ela ria.
Já com certa intimidade, certa vez ela baixou a guarda e eu pude ver sua alma. Tinha uma alma carregada – o peso do mundo, ferida - cicatrizes de  mágoas passadas que não passaram, parecia um fardo ser alma… e lá, num cantinho escuro, eu vi uma menina com vestido de chita, lacinho no cabelo, sentada, chorando.
De novo, mas por que aquela mulher tão segura guardava aquela menina?
Despertamos grande simpatia, e eu a amei, e ela também me amou. Confidenciava-me coisas que compunham paralelas do que sentia com o que mostrava. Aparência que ela impunha e a imagem que conquistara, tinha desejos de menina, tinha atitudes de mulher, lembro de ela ter dado um sorriso inocente e leve quando falei sobre sonhos de criança. Num por do sol, sob aquela árvore tão linda, ela se permitiu e eu pude ver seu coração… e, lá no fundo, num cantinho empoeirado havia uma menina com vestido de chita, lacinho no cabelo, sentada, chorando…
Ah, mas agora já fazia sentido, depois que pude ver o que ela era e não o que mostrava… A menina era ela, eram seus olhos, era sua alma, era seu coração. Mas por que a menina-ela, estava chorando?
E eu incentivei, argumentei, conversei… Mostra essa menina linda, mostra quem tu é. Ela relutava pois sabia que o mundo priorizara as fortes, a meninas caíram por terra, o Amor sucumbiu, a inocência ruiu, a felicidade se afogou no vale de lágrimas e as cicatrizes pareciam feridas ainda abertas. Doía, machucava, a consumia, estava por trás, além de tudo que parecia, a quem de todos que ela via.
Mas esse peso, essa dor, ela notou: não era o mundo que gerava. E ela começou a ver as cores, ela começou a sentir amores, ela sorriu, sem porquê, sem motivo, sem razão, sinceramente, levemente, incontrolávelmente… ela sorriu, sorriu de dentro pra fora, sorriu com a os olhos, sorriu com a alma, sorriu com o coração. E, nesse momento, o rosto se tornou sereno, o peso aliviou, ela percebeu que o pesou que levara consigo não era o do mundo e sim da armadura que ela vestia. E eu pude ver parte a parte a armadura cair no chão, era tão pesada que a poeira subiu…
Por fim, despida da armadura, a ultima peça, a ultima veste, a ultima dor… caiu, enfim, a máscara. E, por baixo dela, surgiu como rasgo de sol da manhã… E lá havia uma menina com vestido de chita, lacinho na cabeça, em pé, SORRINDO

Um comentário:

  1. E cada vez que te leio, mais eu vejo o quanto você é um escritor nato, que nasceu pronto.
    Coloca a alma pra fora, e quem escreve não são suas mãos, são os dedos do seu coração.Parabéns Poeta Lindo ;D

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