quinta-feira, novembro 11, 2010

Vendo daqui de baixo

Alma vendida tão barato que hoje não.faz sentido, mas tão caro que valia a vida. O preço? Heroína suficiente pra meia seringa, e uma pitada de pó. Jogado no chão, o gosto de asfalto na boca e, vendo de baixo, todos parecem maior que eu, o que instiga minha auto depreciação. Dizem que a depressão é o primeiro estágio depois do prazer da heroína… talvez fosse isso mesmo… Não sei, sei que tinha muito medo. A essa altura, tantas loucuras, já não era mais virgem, quando, como, com quem, sei lá… alguma entoxicada como eu, que nem deve lembrar também. Tive prazeres, mas… Ah heroína, depois da hiperatividade da fada branca, o melhor orgasmo.
Então era só isso? Alucinações, orgasmos, amizades que duravam uma lombra, amores eternos até o amanhacer, sexo inescrupuloso… E vem a cabeça: Era isso que eu sonhava quando era criança? Na verdade não, mas com uma mãe viciada e um padrasto que me espancava… os sonhos ruiram. Desde então só queria mesmo estar vivo, ou não.
Respondendo a primeira questão: Não, felizmente. Parecia mais uma manhã em que minha cabeça pesava 2t, ressaca depois do pó me levar pra lua e heroína me trazer de volta, e o álcool? Ah, era o combustível, minha nave era flex. Mas uma coisa estava diferente, o sol mais amarelo, era verão, por isso talvez. E como mágica, que ainda não entendo, um rasgo de sol iluminou um anjo… Anjo? Calma, eram só umas 20 ml, não durariam tanto tempo! Mas sim, era um anjo, uma mulher, tão linda, tão imaculada, um semblante puro, alva pele, e o ouro cabelo, tinha um sorriso que de repente coloriu o mundo monocromático que se via da sarjeta. Eu era um cão, um zumbi, esperando a morte chegar. Estava acostumado com o desprezo, me olhavam como que visse o mais repulsivo corpo vivente, me cuspiam, e me matavam todos os dias com esmolas que enchiam as poucos as seringas me me consumiam. Mas eu sorri, um sorriso doce e puro que nem lembrava mais que sabia fazê-lo. E uma felicidade sem precedente me consumiu, e cada vez mais seu cabelo de ouro brilhava, ela era linda. Ela me olhou, fiquei envergonhado, o que era isso? Alguém que implora por centavos para sustentar vícios, envergonhado… de que? Ela me olhou, mas não me viu. Viu um cadáver de pé. E teve o mesmo desprezo de todos… mas o dela doeu, o dela tocou, o dela… chorei. Lágrimas? Chorei, porque um anjo se decepcionou com aquilo que viu.
Quiz saber quem era, queria pedir perdão… Pelo que? Meu Deus… estava louco, e essa dor no peito? Já é você morte? E quanto mais eu me aproximava, mas ela se afastava, tinha nojo de mim. Não, o que você faz está doendo. Pára! Por que doia? A partir desse momento desisti das perguntas. E já não vi mais nada…
Acordei, ainda meio zonzo e… o anjo. Que alegria senti. Ela perguntava quantos dedos tinha. Eu sei lá. Só queria olhar para ela. Alguém se preocupou comigo. Não sou tão repulsivo. Não sou nojento. Deus? Era um sinal de que havia um plano? Deus? Eu era seu filho? Então também tinha direito a felicidade, ao Amor. Aquele rosto tão branco me fez lembrar de forças, e sentimentos que eu havia esquecido. Ela foi perdendo o medo de mim. E cuidou de mim. Foram os 23 minutos e 47 segundos mais felizes que eu tive na minha vida. Ela me de seu telefone. E sumiu no mesmo rasgo de sol que surgiu.
Naquela mesma noite fui me picar…. mas não tinha senti o mesmo prazer, era o mesmo, mas era muito menor que o daquele sorriso. Esse prazer me fazia gozar, aquele tocou me coração. Desisti, saí daquela corja de toxicômanos, liguei para ela. Tremia, tinha medo. Mas ela aceitou. Fomos a um café, perto de onde tive o meu primeiro contato com Deus. Dos prazeres que tive, das seringas que me escondia, das fadas que via, dos sexos sem sentir, das noites inesquecíveis que eu nunca lembrava… enfim, de tudo que eu vive nessa repugnante vida, nada se comparava com o exato momento em que aquela boca molhada e fria tocou meus lábios. Senti vida. E nada mais que eu fiz ou vive fazia sentido. Um homem com um sentimento tão lindo não podia viver assim. Daí pra frente os encontros noturnos em becos e esquinas com as fadas, foram dando lugar a encontros com o Anjo. Sonhos… Sonhos… Eu os tinha novamente, pra eu queria vier, eu tinha algo para fazer, eu tinha que amá-la por toda minha vida, e esta tinha que ser grande pra caber todo esse amor.
Assim começa a história de um homem, vivo sim, uma história de Amor, igual a todas as outras mas melhor que qualquer uma. Amá-la. Para quem nunca sentiu Amor, parecia impossível que ele pudesse ficar maior do que já era, mas a cada segundo, cada dia, mês, ficava mais forte. Pela primeira vez na vida pude ver as cores do outono, era tudo tão vermelho, marrom. Era tão lindo. A vida ao meu redor, existia. Feliz… entenda o que significa, se você um dia sentiu isso… FELIZ.
Passou-se 1 ano desde que alguém em um rasgo de sol iluminou meu ser. Trabalhando, uma casa, um cachorro, o grande e alegre Rex. Tudo comum, mas o sorriso todas as noites quando chegava em casa tinha um que de diferente que me fazia mais feliz. Minha alma perdida… O Amor encontrou.
Numa noite, 23 de Setembro de 1997, estávamos no mar, era madrugara, só nós dois, mar, Lua, areia e paixão. De repente ela parou, se levantou e disse: Você acha que é completamente feliz? Só por minha causa, só eu? Ah, nem pensei para responder: Claro, você é o suficiente pra me fazer feliz. Ela sorrio me  olhando, pude ver os cacos de lua no seu olhar: Pois tenho que você está errado. Você pode ser feliz, não só comigo. Mas como assim? Claro que não. É só você. Novamente ela sorriu, e os cacos de lua, cada vez mais viravam a própria lua: Agora somos nós três. Ela pegou minha mão, pôs em seu ventre. Entendi.
Que dor no peito. Não, não. Por que logo agora? Meu coração, já machucado de tantas doses, de tanto tempo perdido não pode aguentar. O dia já amanhecia e a ultima coisa que pude ver foi o rasgo se sol virar cacos nos seu olhar. Agora sim, é você morte!
De volta a baixo, o cheiro de grama e terra molhada me lembra o Amor que tive, e sei que lá em cima do chão ela está chorando agora. Não chore… Só queria que você soubesse: Graças a você, hoje, daqui de baixo, já não tenho medo, e graças a meu Amor, me sinto o Maior Homem do mundo.

2 comentários:

  1. Daqui a pouco ta escrevendo novela... Muito massa. Não gostei do final.heheheh,mais ta legal C.L

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  2. Kaio que coisa linda, tb nao gostei da morte nao.
    mais a parte da mão no ventre, me estremeceu.

    *_* linda hitória.

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